sábado, 6 de novembro de 2010

Nada como ser livre!



Música clássica da melhor qualidade. A madeira escura aquece o ambiente. Na entrada, uma cristaleira com taças delicadíssimas e copos de cristal vermelho, adornados por finos traços em dourado, são observados pelos olhos das lindas mulheres que entram no ambiente. Elas vestem gabardines exuberantes. Pedras e jóias de família adornam os dedos, pescoços e punhos das senhoras. Homens de casacos e sobretudos escuros sentam-se à mesa, famaitre, aprovam a qualidade do vinho. Há um requinte em todas as pessoas. Uma atmosfera de luxo.

Me chama a atenção uma mulher sentada à mesa, pois percebo que ela leva à boca uma coisa estranha. Olho bem e identifico que a sofisticada senhora está comendo uma orelha. Mastigando, mastigando, esmigalhando uma orelha inteira, até que a pele, músculos e nervos consigam descer pela garganta. Ela sorri para as amigas, cerca de dez senhoras gargalhando ao redor da mesa. Percebo que aquelas orelhas não são de seres-humanos. Não, certamente não são. São as orelhas de um porco. De muitos porcos, pois cada porco, assim como nós, possui apenas duas orelhas. Os homens comem as tripas de um animal que não identifiquei qual é. Vejo uma menina comendo a língua de uma vaca. Ouvi dizer que os músculos da língua, por onde a vaca saliva, são bem macios, então deduzo que tenha sido por isso que deram essa parte do animal para a criança. É, faz sentido, os pais normalmente querem o melhor para os seus filhos. Minha cabeça gira, meu olhar circula por todo o salão. A menina ainda não conseguiu engolir toda a língua da vaca. Me entristeço imensamente com a mescla de sofisticação e crueldade ao meu redor.

Quem tiver vontade e estômago para participar, basta pagar 45 reais e ir até a feijoada do Plazzinha. Mas precisa ir ainda no inverno pois parece que quando muda a estação eles oferecem a cabeça inteira...do peixe. Bom, acho melhor parar por aqui. Mas lembre-se de que você é livre para comer o que quiser. Repito: você é livre para comer o que quiser. Isso não é o máximo?! Você tem o direito de escolher o seu alimento independentemente de terem colocado a língua ou o fígado da vaca na sua boca quando você era criança. Ufa...nada como ser livre e aproveitar dessa liberdade para fazer as minhas próprias escolhas!

2 comentários:

Júlia Schütz Veiga disse...

putz...

Lucas De Nardi disse...

Adorei o texto, Aninha!
Liberdade é o nosso bem mais precioso. Que saibamos utilizá-la com lucidez e responsabilidade.
Beijos