segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A arte e a verdadeira medida das coisas


Normalmente gosto de ir sozinha a museus. Acredito que cada pessoa tenha o seu próprio tempo para apreciar uma obra de arte e isso depende da cultura, da sensibilidade, do gosto e dos interesses de cada um. Certa vez fiquei 50 minutos contemplando A Primavera, quadro de Botticelli, simplesmente porque isso me dá prazer, me renova. Sei que passar tanto tempo assim na frente de um quadro deve ser um saco e incompreensível para muitas pessoas. Também tenho a consciência de que dificilmente encontraria alguém que me acompanhasse nessa viagem, por isso, repito, gosto de ir sozinha a museus.

Numa tarde de chuva fui ao Margs com uma amiga para ver a exposicão do Portinari. Tudo correu bem, ufa. Exposição excelente. A companhia certa. Nossos timings estavam ajustados. Ela não precisou ficar me esperando na saída do museu. Eu não fiquei com a sensação de ter perdido nada, ví todos os detalhes que quis. Vimos juntas. Compartilhamos. Mas mais do que isso, entramos falando da vida e saímos vivendo - como ela escreveu.

Antes de entrar na exposição, tomávamos um café (os cafés sempre fazem parte das minhas visitas aos museus, ou eles aparecem antes ou depois) e conversávamos sobre relacionamentos. Uma conversa densa. Tensa. Amarrada. Cheia de dúvidas e suposições. Tantos rodeios. Especulações. Sei lá, falamos tanta coisa. E que mania essa que a gente tem de imaginar o que se passa dentro da cabeça do outro... Bem, fim da conversa, início da exposição. Pinturas, desenhos e ilustrações. Dom Quixote e Sancho Pança. Um sapateiro ou um engraxate? O menino do engenho e pronto, ao sair do museu tudo se fez claro. A situação era a mesma mas já não tinha mais o mesmo peso. O peso que nós colocamos nas coisas! Até parece que perdeu a importância, falamos. A importância que damos para determinadas situações! Parece que o problema encolheu, pensei. Os problemas são do tamanho que damos a eles.

É impressionante como a arte nos desperta e nos mostra a verdadeira medida das coisas. Moral da história: não entre na nóia, vá a um museu. Abra um livro. Leia uma poesia. Risque e rabisque. Tá triste? Ouça uma música. E depois me conte se as coisas não se ajustaram melhor.

3 comentários:

Naiana Alberti disse...

Ana!
Incrível o teu texto, por ser bem escrito, claro e envolvente. Maravilha de conteúdo que gerou em mim novas ideias, novas sensações. Fundamental você na minha vida, pessoa sensível, lúcida e divertida. Acrescentaria que além de visitar museus nós deveríamos visitar a ana...beijos.

Eder disse...

Aninha. Ficou muito bom este texto. Li ele duas vezes para poder assimilar. "Os problemas são do tamanho que damos a eles."
Ótimo. Bj.

Júlia Schütz Veiga disse...

anita, nada como te ter ao lado para clarear as ideias... ontem adormeci com bukowski, aquele cara cheio de pontos finais como eu. thanks a lot! beijocas.