sábado, 11 de setembro de 2010

Enquanto lia Clarice Lispector no ônibus

a moça sentada ao meu lado me interompeu para perguntar o nome do livro. Sem tirar os olhos da página respondi. A hora da estrela, da Clarice Lispector. E ela: Áh, adoro livros espíritas! Eles ajudam tanto a gente né?! E eu: Como assim?! Você interrompe a minha leitura e ainda fala uma asneira dessas? Brincadeira, é claro que não falei isso para a moça. Na verdade, não respondi nada. Sorri e mantive meus olhos vidrados na página que dizia assim: A quem interrogava ela? a Deus? Ela não pensava em Deus, Deus não pensava nela. Deus é de quem conseguir pegá-lo. Na distração aparece Deus.

Não, não respondi nada. Porque eu e a moça não falamos a mesma língua. Eu falo estrela e ela entende outra coisa. Cada um vê o mundo do jeito que é. 

5 comentários:

Clarissa disse...

adorei! e como tem diversos universos e pessoas vivendo em cada um deles....

Naiana Alberti disse...

porque cada um vê com os olhos que tem...e eu amo ver o mundo através dos olhos teus...

Ana Flores disse...

Nai, e se eu te contar que o meu texto terminava justo com essa frase que você escreveu... cada um vê com os olhos que tem. Acabei tirando... para você colocar depois. Obrigada. Amo você.

Naiana Alberti disse...

assim vamos escrevendo o mundo juntas. cada uma com os olhos que tem.

Fernanda disse...

As pessoas entendem dos discursos e do mundo aquilo que querem e aquilo a que se limitaram.
Quando estudei linguagem jurídica na faculdade, aprendi que a "culpa" do ouvinte não entender o discurso é do interlocutor, daquele que faz o discurso. Eu ficava furiosa com isso. Mas depois entendi, eu acho, o que isso significa. Para nos fazermos compreender, temos que conseguir entrar no mundo da outra pessoa, chegar a algum ponto comum.
Entretanto, confesso que inúmeras vezes, na prática, aprendi que isso é um desgaste de energia que muitas vezes não vale o esforço.
E eu amo esse livro! Li no colégio e fui a única da turma que gostou (queriam me fuzilar)...talvez eu tenha sido a única em que Clarice encontrou um ponto comum (tá, agora me achei...hahaha).