Homenagem à fadinha dançarina

Normalmente, as coisas recebem o nome que merecem. Castanha tem cara de castanha mesmo. O termo castanha me faz lembrar das coisas, dos cheiros, das formas e cores da terra. O sol também foi feliz com o nome que lhe deram, a palavra em si, já é redonda e amarela - para mim cada palavra tem sua cor, assim como cada pessoa tem o seu tom de pele característico. Imagine só se o sol se chamasse agulha? E se agulha se chamasse algodão? Pausa para refletir. Tiveram sorte com o nome que receberam também, as palavras: pitanga, fantasia, marmelo, dentista, gonorréia, quadrilátero, colorido, harmonia e guirlanda.

Infelizmente, nem todos os termos da língua portuguesa tiveram a mesma sorte que a castanha e a pitanga. A linda palavra sífilis, é uma destas palavras castigadas a passar a vida inteira sendo associadas a algo que não está a altura de sua melodia e escrita tão harmoniosas. É tão bela e refinada quanto as palavras íris, rosácea, pérola, bailarina e anis. Sífilis é sutil, feminina e agradável aos ouvidos. Seu lugar de mérito seria nas letras de música, acompanhadas ao som de violino. A palavra sífilis veio ao mundo para preencher os versos das mais lindas poesias e não para estar nos livros de medicina e nas bulas de remédio. Seu nome deveria ter sido pronunciado nas rodas de artistas, poetas e pintores renascentistas mas jamais nos postos de saúde e farmácias.

Mário Quintana também gostava de brincar com as palavras, para ele, o mormaço era um velho que vinha pegar as crianças; e o sereno, era na verdade o Seu Sereno, o vigia da noite. Já para mim, nos contos infantis, Sífilis é o nome da fadinha dançarina. Ela possui uma varinha de condão que ao tocar a cabeça das pessoas faz plim, espargindo seu pozinho cintilante e transmitindo alegria.