é um entra e sai. é humanamente impossível saber quantas pessoas há na casa pois esse número muda a toda hora. já desisti de saber. aceito qualquer um que se depare comigo pelos corredores. os vidros da minha casa são coloridos. tem uma pitangueira e duas cerejeiras, uma de frente pra outra. tem uma coleção de corujas e 275 sinos. cerâmica, louça, vidro, cuidado para não bater nos sinos, eles podem quebrar. quando eu era criança ficava imaginando que a casa era um doce e olhava para os vidros, para os quadros e para os objetos de decoração e tirava fatias imaginárias. agora que eu cresci, continuo imaginando a mesma coisa. vivo tirando fatias. na minha casa ninguém fala, todos gritam. as conversas são intercortadas e nenhum assunto se sustenta por mais de 4 minutos. há sempre, no mínimo, dois assuntos acontecendo ao mesmo tempo. a hora da refeição é uma hora sagrada. e é também quando todos nós falamos ainda mais alto. depois do almoço o meu pai coloca o pijama e dorme. silêncio total. ai de quem abrir a boca ou jogar bola. na minha casa agora tem a dona hiolanda, a cozinheira, que sempre na hora de ir embora pergunta para a minha mãe posso chegar? posso chegar quer dizer posso ir, pelo menos pra dona hiolanda. e assim a gente se entende por aqui. na minha casa tem um tanto de mim. e em mim há muito, mas muito mesmo desta casa.
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